quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Cinema Performativo de Peter Greenaway

“Peter Greenaway, O Cozinheiro”

(imagem da web)


O Cinema está morto.” Esta é uma das falas mais emblemáticas do extravagante cineasta britânico Peter Greenaway, que usa sua paixão pela pintura para compor visualmente seus filmes com inconfundível linguagem poética.

No ano de 1962 ele começou os estudos no Walthamstow College of Art, e logo fez amizade com Ian Dury, um estudante de música, (a quem mais tarde convidaria para fazer o filme The Cook, the Thief, His Wife & Her Lover( O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante). Greenaway passou três anos em Walthamstow estudando para ser um pintor muralista e realizou seu primeiro filme,  Morte do Sentimento, um ensaio sobre móveis de jardim de igrejas.

A partir de 1965 Greenaway juntou-se ao Central Office of Information, onde passou os quinze anos seguintes trabalhando, inicialmente como editor de filmes e como diretor. Depois de muitos curtas - metragem experimentais, nasceram os longas.

Os filmes de Peter Greenaway são marcantes pela presença de elementos da arte renascentista e barroca, pelo uso de luz natural, compondo cada cena de seus filmes como se fossem pinturas. Greenaway também sempre se interessou por ópera tendo escrito dez libretos, ele mesmo, para uma série nomeada "A Morte do Compositor", enfocando dez compositores, de Anton Webern a John Lennon.

Sua incrível versatilidade artística também o levou a criar a ópera dos 100 Objetos para Representar o Mundo, que esteve exposta no Brasil em 1998 no SESC Vila Mariana. Esta obra é uma crítica a NASA, que em sua insuperável arrogância americana enviou ao espaço em 1977, uma nave com objetos que representassem os habitantes da terra. Então Greenaway lançou a pergunta que deu origem a obra: Mas como representar a todos dentro de todas as diversidades ?


Revolucionário no cinema, Peter Greenaway contesta as histórias e tramas feitas através do texto ilustrativo, e como um entusiasta da pintura faz da imagem uma prioridade para a criação de seus filmes. Sua subversão ao estruturalismo formal, abre os portais para uma viagem do espectador a um mundo imagético carregado de sensibilidade.

Para nossa devoração cinematográfica, vamos destacar sua obra mais antropofágica, o filme O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e O Amante de 1989, que conta a história de Albert Spica, um Ladrão que também é o proprietário do restaurante Le Hollandais, onde janta todas as noites com sua esposa Georgina, sempre rodeado de bajuladores. Albert tem um comportamento grotesco com sua Mulher e trata o Cozinheiro do restaurante de forma animalesca. Cansada das humilhações sofridas por Albert, Georgina envolve-se ardentemente com um cliente do restaurante, Michael, um intelectual contador de uma livraria. Descobertos em sua traição, a Mulher e o Amante fogem com a ajuda do Cozinheiro, mesmo assim, Albert, O Ladrão, localiza os amantes e se vinga de forma cruel, sofrendo em seguida uma contra-vingança tramada por Georgina, sua Mulher, que o obriga a devorar um banquete assustadoramente inesquecível.

A Estrutura do Filme traz uma sequência de sete banquetes contados em nove dias e faz uma referência ao Teatro Jacobino com exageros de violência, começando com um prólogo com abertura de cortinas e finalizando com o descortinar, o que desloca o espectador a teatralidade, lembrando a performance.

É um cinema compulsivo e metafórico, cheio de desconstruções e apimentado de delicadezas, como só Peter Greenaway poderia receitar.



                                  (imagem da web)

 " ... É um melodrama contemporâneo. Uma história extravagante, improvável, mas não impossível, que se passa num restaurante, local apropriado para se comer todas as coisas, caso seja apenas experimentalmente.
       Como a comida no restaurante, alguns podem achar difícil engolir as extravagâncias e podem achar que não é fácil aguentar as improbabilidades ..."
 ( Greenaway, sobre o filme O Cozinheiro, o Ladrão e sua Mulher,1989 )

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